Quando aponto meu relógio sem ponteiros
O homem equilibrado ironiza-me para terceiros
Ele acredita ser indícios de loucura
Mas pouco sabe que diante desta arquiterura
Pouco vale, ter nos punhos, norteios.
Ando com passos, por sinal, desajeitados
Feito pombos, em gaiolas, depositados
A platéia que diariamente me assiste
Iguala meu andar à esquisitice
De animais com seus lobos estirpados
Livre das grades por pinel
Não mais sustento correntes neste quartel
Mas enquanto me libertam, neste ato idolátrico
Me aprisionam no saber psiquiátrico
E fundam a incontestável Doença Mental
As algemas, que de meus membros retiraram
Reverteram-se em remédios que me doparam
Não sou o mesmo que entrara por estes portões
E confesso que dentro de cada um desses corações
Resta um pouco de saudade dos que um dia amaram.
Já ouvi vozes de pessoas gritando
Já assisti imagens de bailarinas sapateando
Mas em nenhum momento minha loucura
Chegou ao nível dessa estúpida postura
Que nosso cientista permanece adotando.