quinta-feira, 5 de abril de 2007

Manicômio e o Duplo da Doença Mental


Quando aponto meu relógio sem ponteiros

O homem equilibrado ironiza-me para terceiros

Ele acredita ser indícios de loucura

Mas pouco sabe que diante desta arquiterura

Pouco vale, ter nos punhos, norteios.


Ando com passos, por sinal, desajeitados

Feito pombos, em gaiolas, depositados

A platéia que diariamente me assiste

Iguala meu andar à esquisitice

De animais com seus lobos estirpados


Livre das grades por pinel

Não mais sustento correntes neste quartel

Mas enquanto me libertam, neste ato idolátrico

Me aprisionam no saber psiquiátrico

E fundam a incontestável Doença Mental


As algemas, que de meus membros retiraram

Reverteram-se em remédios que me doparam

Não sou o mesmo que entrara por estes portões

E confesso que dentro de cada um desses corações

Resta um pouco de saudade dos que um dia amaram.



Já ouvi vozes de pessoas gritando

Já assisti imagens de bailarinas sapateando

Mas em nenhum momento minha loucura

Chegou ao nível dessa estúpida postura

Que nosso cientista permanece adotando.