domingo, 26 de outubro de 2008

Incontido


 

Todo poema dedicado é delicado.

E soa como uma nota de piano

Escreve-se em dedo, com cuidado

Como se para ser escrito, levasse ano.

 

Todo poema que lhe dedico

Em cada verso me complico

Pois cada palavra dedicada

Me leva uma face debruçada

Me sobra uma timidez sem sentido

 

Se me encanto por ti, me envergonho

Em por nas entrelinhas o que sonho

Pois não há verso contido

Que não esteja tão perdido

Ao tentar expressar o que proponho

 

Nas folhas, nos livros então escritos

Eu te encontrei, em poemas ditos

Mas preferi ficar um tanto quieto

E contar o que sinto por incompleto

Ao evitar soar meus próprios gritos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Contido


Escrevia-lhe uma poesia

Sobre rancor

Mas enquanto escrevia

Me perdia

E falei de amor

Envergonhado, me assustei

Pasmo e pensativo

fiquei

 nas suas mãos

enquanto nas minhas

os dedos tremias

de solidão

Fechei os olhos

E também os papéis

Quebrei os grafites

Como o pintor quebra pincéis.

E, revoltado,

rasguei o poema

e me encontrei

igualmente rasgado

em seu dilema...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Saudade


Vá lá, que cá fico eu

Com as tralhas de teu uso

Seus chinelos gastados

 

Tu parte tão tarde

Que pra ir embora já aconteceu

A demora deu espaço

Pra este peito se encantar

 

Ah, senhora... vá..

Dos livros tomo conta...

Das folhas, das fotos...

Vá lá que estes calços meus

Inda tão inteiros, não me permitem

partir...

 

Ah, senhora... vá...

Vá lá que cá fico eu...

 Com estes pedaços,

Agora tão enriquecidos...

 

Vendo que em mim

Tudo então morreu

Prefiro ver com olhos...

Entristecidos...

 

Vá... vá... que esta dor

Só meu tempo cura

E triste é saber

Que a pior dor

é a que só o tempo muda..