sexta-feira, 2 de março de 2007

Velhice


No espelho, com minhas palmas erguidas

Percebo minhas mãos envelhecidas

Meu corpo se modificara

Aquele que a natureza edificara

É consumido por horas seguidas

Meus pêlos, cuja imagem declina

Perderam suas doses de melanina

E agora se branqueiam feito neve

Sinalizando que a morte está breve

E que minha juventude se elimina

Mues braços, outrora tão viris

Agora só sustentam os remédios dos febris

A medicina não me cura

Enquanto o tempo me procura

Para lançar outra cicatriz

Essa matéria que então se modifica

Com outros animais se identifica

A evolução me tornou forte

Mas depois da reprodução segue-se à morte

Que o biólogo tanto decodifica

E para festejar minha doente condição

Bebo num copo, igualmente em decomposição

Um veneno líquido e amargo

Para abrevir essa vida com o encargo

De quem sabe se eximir da solidão


Escrito por Filipe M. Vasconcelos

Um comentário:

Mylena disse...

Eis que o tempo tudo muda!!! Eis que as sementes que plantamos exigem de nós todo cuidado para que haja colheita! Cada agricultor sabe da sua tormenta e protege sua plantação contra a geada! Eis que o tempo muda assim como mudamos nós com o tempo! Mas estás certo, se não sonhamos com as flores para que arar a terra, não é?