terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sobre Pintores e Poetas


O poeta é um pintor de palavras

Que com apenas uma cor

Pincela sentimentos

Faz das folhas em branco

suas telas

Registra em versos,

Seus pensamentos.


O pintor é um poeta alienado

Que nas telas rabisca

O que em versos não se explica

Troca humores por cores

Troca grafite por tinta.


A mulher que agora me encanta

Não tem pincéis, não tem grafite

Não tem versos, nem telas

Mas basta sua presença, que vejo,

Um poema em forma de desejo

Uma pintura das mais belas...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Dizeres


Direis que louco és por tal senhora

Pois digo, por ela,

Louco também sou

Mas se teu peito nela se consola

Ao meu peito cabe apenas

Morrer de amor..


Amor de peito, dela me devora

Se em ti ela pode dar calor

Mas se teu olhar a mim já não demora

A ti ela causa tanta dor...


Dor esta, meu caro, que nos machuca

Como tal ninguém pode vencer

E este amor que a tanto nos perturba

Leva-nos aqui tanto a sofrer.

Bem sei que nessa vida que perdura

Por ela, vamos juntos,

Se odiar até morrer...

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Plurissignificativo



É delicado, senhorita

o dedo que toca

Cada nota neste piano

Pois com este toque delicado

Prometo tocar seu corpo

Como o pianista toca o piano.


É disfarçado, senhorita

o olhar que assim contempla

Uma pintura na galeria

Pois com este olhar disfarçado

Prometo tomar o cuidado

De ver no seu corpo

Uma pintura em euforia.


É declamado, senhorita

O verso na boca do poeta

Pois com esta mesma boca

Prometo em toda biblioteca

Declamar o que de ti me afeta...


É saudade, senhorita

O que sinto pela tua espera.

E nada delicado, disfarçado

Ou declamado...

Irá preencher essa sua demora.

sábado, 8 de agosto de 2009

Poema de si



Minha vida é um poema

Não publicado

Jamais lido

E complicado


Minha vida é um poema escrito

Sem ser pensado

É um poema esquisito

por si próprio, recusado


Minha vida é um poema

Sem poesia

É como a palidez,

Sem alegria.

É como ter cores,

Mas ser daltônico.

Minha vida é poema

De poeta lacônico.


Minha vida é poema

Por mim não rabiscado

É verso invertido

Encanto desencantado.


Meu poema é minha vida

Um descrever mal interpretado

É sigilo em face vencida

É verso descuidado.

domingo, 19 de julho de 2009

Contradição



Procuro-te, desejo-te

E, por assim lhe desejar

Te quero longe.

Esmaga-se um desejo

Se, por ventura o desejado

A ele se consome.


Atentos e atordoados

Meus olhos te procuram

Desesperançosos

Mas, por favor, não se aproxime

Pois cometerás o crime

De saciar o que me incita os olhos.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Por mim



Minhas mãos, ao pensar-te,

tremem

Em alternâncias

descontínuas

Ao vê-la, então,

vou confessar-te

Ao vê-la,

elas tremem mais ainda...

 

Quando tu se aproxima,

eu desminto

Com uma face, falsa, finjo calma

Mas por dentro, confesso,

não minto

Por dentro

Nada pode, nada acalma..

 

Quando tu, então, desrespeita

Os limites invisíveis,

respeitados

Eu rogo a deus

Para que nada aconteça

Como imploro, para que nunca

Ele atenda estes recados... 

domingo, 19 de abril de 2009

Na Biblioteca


Te ver, é ler

Um livro na biblioteca

E entre tantos por escolher

Tu seres único que me alimenta

 

Te ter, é ser

Um livro na estante

Entre tantos a lhe prender

Eu ser o único que lhe espante

 

E se eu, teu leitor, dispensar algumas páginas

Ou palavras de teu livro

É porque tua obra causa lágrimas

Que por vezes não corrijo

 

E se eu, teu leitor, porventura

Negar de tua escrita um verso

Não é porque nego vossa doçura

Mas porque na minha alma está o inverso

 

E se eu, por fim, abreviar a vida

E a ela dar fim nos pensamentos meus

Não pense que tuas letras não me trouxeram alegria

Pois foram elas que adiaram meu adeus.

terça-feira, 24 de março de 2009

Outono de Abril



Um copo de vinho

Uma sonata no piano

E um perfume doce,

preparei,

para quando tu chegastes...

 

Mas o vinho, secou

A sonata, cessou

O cheiro, se perdeu...

 

Preparei o vinho,

Como preparei a vida

Escolhi a sonata

Como música, preferida

Reservei o perfume

Como o cheiro

da minha verdade

 

Mas meu vinho

virou sangue

Minha sonata

Desafinou

Meu perfume

Só mentiu

A mais falsa das verdades

A de que um dia, tu chegastes.

No outono de abril.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sonhos..



Ah, senhora, sonhei

Com cordas de violino, eu sei...

Eu sei que sonhei

Com duas estrelas castanhas

Pois então, senhora, acordei

E não vou lhe negar

Que ao despertar

Me assustei...

As cordas de violino...

Não eram cordas musicais

Eram fios de seus cabelos

Sobre meus lençóis.

As estrelas castanhas

Não eram astros do céu...

Eram teus olhos delicados

A clarear sobre os meus.. 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Soneto

 

Este estado em que me vejo desconheço

Duvidoso eu me sinto estou certo

Quando chega esta rosa de mim perto

Implica-me a oscilar do que mereço

 

Tanto percebo que a teu lado estou forte                     

Tanto confesso que em distancia padeço

Mas que fenômeno é tal que não conheço?

Que sem ele encontrar prefiro a morte

 

Da mocidade meus olhos não passaram

Mas o que sinto em momentos causa dor

Se tão novos meus olhos já choraram

 

Antigos então, jamais serei quem sou

Pois já não sei se o que estes olhos encontraram

É o que todos chamam de amor.

 

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Angústia



Quando meu grito soa

Pelos cantos do mundo

Nenhuma matéria recua

Tingida pelo segundo

 

Quando meus gestos reclamam

Algum movimento profundo

Não há mover provocado

Meu ato jamais foi fecundo

 

Eu quero pedir licença

Retirar-me um momento

Pois meu corpo hoje ocupa

Mais espaço que meu pensamento

 

Eu quero sair em silêncio

Me enfiar em alguma via escura

Pálido e trêmulo

Para viver a minha angústia